Em 2021 eu fiz um livrinho. Peguei uma ideia que eu usava em enquetes no instagram e transformei em poesias curtas. Parece uma coisa sem lógica nenhuma - e eu mesmo achava isso enquanto fazia - mas quando vi o que aquilo virou depois de organizado, percebi que estava marcado pelo período em que foi escrito. Pandemia, neofascismo, até algumas coisas particulares que vivi naqueles meses estavam escondidas ali.
Digo isso porque em 2022 a única coisa que eu escrevi foi essa newsletter, e para fazer uma retrospectiva interior do que foi o meu ano, o que eu preciso fazer é reler o que disse aqui. Tenho relido muitos desses textos e de novo é perceptível o registro do contexto em que esses papos se desenrolaram. Lembro que quando comecei o Sinto Muito eu falei que o formato que eu queria fazer não era de crônicas, mas agora, pensando na etimologia da palavra, talvez eu aceite que é sim.
A obrigação auto imposta de publicar alguma coisinha aqui toda semana é cansativa e recompensadora, como qualquer prática constante, ou seja, foi um elemento absolutamente frequente na minha vida ao longo do ano. Mesmo quando eu passei várias semanas sem escrever nada, na minha cabeça todo dia eu me cobrava de que devia estar escrevendo, eu buscava alguma ideia que pudesse virar assunto, e confesso que é bastante frustrante se sentir incapaz de fazer uma coisa que você quer e que você sabe que vai te fazer bem quando for feita. Pelo menos nos últimos meses consegui manter alguma recorrência e me permito achar que estou pegando um pouco de prática com o tipo de comentário que procuro fazer.
2022 foi um ano muito longo e acho que já falei muito dele aqui para fazer uma rememoração agora. Ainda mais que você deve saber bem o que passamos nos últimos doze meses. Pensemos, então, no que vamos viver daqui para frente: Todo ano eu renovo as resoluções de escrever mais e parar de roer as unhas. Ficar mais offline tem sido um sonho frequente nos últimos anos também, e tão desventurado quanto. De objetivos mais práticos, não cheguei a pensar nada ainda para 2023. Dá impressão que não deu tempo de pensar sobre isso por enquanto.
Mas pelo menos no que compete a este Sinto Muito eu tenho algumas ideias. Não sei se você já viu, mas o substack (a plataforma por onde eu publico e envio esses textos) tem um aplicativo para celulares onde você pode ler as newsletters que assina. Nesse app tem uma funcionalidade de chat onde podemos trocar ideias sobre as pautas daqui ou quaisquer outras coisas. Quero usar mais esse recurso para não ficar falando em uma via de mão única. Dá uma olhada, pode ser uma forma legal de você conhecer outras newsletters e outras pessoas legais.
Também tô trabalhando em um banho de loja que você deve ver aqui a partir da próxima semana, e principalmente em uma organização de textos que nasceram aqui, para transcender esse ambiente virtual.
Selecionei alguns dos meus favoritos dessa primeira cinquentena de e-mails para compor uma zine que vai se chamar Sinto Muitíssimo. A ideia era ter ela pronta agora na virada do ano também, mas quando comecei a prepará-la vi que era muito mais complexo do que eu imaginava. Surgem muitos fatores novos quando você passa a olhar para várias unidades de texto como um grupo, e outros ainda quando se pensa no suporte do papel, completamente diferente do digital.
Todas essas questões e tratar e decisões a tomar me deixam muito animado, e espero não demorar tanto mais para ter algo a mostrar sobre a versão impressa (e revisada) dessas palavras. Normalmente quando eu começo a trabalhar em algum projeto assim eu não gosto de espalhar muito, por medo de desistir no meio e decepcionar as pessoas - como se todo mundo se preocupasse muito com o que eu faço ou deixo de fazer, né - mas dessa vez resolvi seguir aquela história de jogar as ideias pro mundo para ver se ajuda a vingar. Portanto, se até dezembro de 2023 essa coletânea não tiver saído ainda, me cobre!
E um grande ano novo pra nós.
Feliz Ano Novo pessoal. Um 2023 de muitas realizações para todos!