Como você já deve estar sabendo, mesmo com o covid ainda à solta por aí estamos vivendo um longo processo de flexibilização das restrições, retorno às atividades, novo-novo-normal, como preferir chamar. Por conta disso, até os megaeventos em centros de convenções voltam ao formato presencial. E eu, que também tô tentando me acostumar a circular de novo pela cidade, aproveitei o embalo para ir visitar no último domingo a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que está acontecendo no centro de convenções do Expo Center Norte. Sinceramente, não sei dizer o que eu estava esperando, mas por algum motivo eu fiquei bem admirado ao encontrar uma gigantesca conferência para comprar livro e tirar foto.
Havia ainda uma programação complementar com palestras, debates (dos quais você tira foto e fica com vontade de comprar livros) e sessões de autógrafos (quando você compra o livro para poder tirar fotos) que, rabugices à parte, eu gostaria de ter visto. Acabei não conseguindo porque em menos de uma hora andando por lá eu já estava aflito para ir embora. Ainda não estou totalmente confortável com eventos muito grandes nem muito cheios, e a Bienal está exatamente assim. Me surpreendi com a multidão de adolescentes lotando os corredores num labirinto de filas, comprando muitos livros e tirando muitas fotos.
Da parte das compras, no fundo eu sei que é legal ver tanta gente dedicando um domingo a ir num evento (pago) para gastar com livros, principalmente tanta gente ainda com cara de criança - para não falar das crianças de fato, que também eram muitas, porque essas são levadas mais por vontade de seus responsáveis - isso só não me impediu de achar chato elas estarem todas enfileiradas na minha frente quando eu queriaver o que cada editora destacava em seu espaço. Consegui ficar sabendo de alguns lançamentos que me interessam, como por exemplo O Rei Pálido, romance póstumo do David Foster Wallace que saiu pela Cia. das Letras. Não cheguei a comprar livro nenhum porque alguns preços que olhei me assustaram, e além disso todo estande tinha uma longa fila também no caixa.
Já sobre as fotos, eu sei que é bobagem ainda achar isso curioso em 2022, e meu principal incômodo era comigo mesmo, por saber que eu vivo com o celular na mão a maior parte do meu tempo e continuo tendo dificuldade em achar normal que toda expositor tenha montado algo especificamente para isso, desde uma reprodução da estátua do Drummond em Copacabana até modelos humanos vestidos como personagens de livros que eu não sei dizer quais são, cada um devidamente acompanhado por sua fila. Na minha cabeça, me envergonhava me sentir como o cara chato daquela tirinha do XKCD.
Eu estou tão arcaico que vejo as pessoas tirando fotos e ainda penso em Instagram, quando na verdade, como bem apontado no ótimo texto de Walter Porto sobre a Bienal, na Folha, o negócio agora são os “booktokers, que divulgam livros no TikTok.” Eu já perdi o trem da história das redes sociais há algumas estações, não tendo participado de Snapchat, Clubhouse e outras tantas que ameaçaram encontrar esse espaço que o TikTok finalmente conseguiu ante os gigantes do Meta, Google e afins. Acho que minha sensação nos corredores abarrotados da Bienal foi parecida com as minhas tentativas frustradas de usar o app chinês de vídeos: Incômodo com o volume e aparente desordem das informações; dificuldade de saber o que vai acontecer se eu virar para um lado ou para o outro; tentar chegar em determinado ponto e não conseguir; enfim, estar deslocado.
Normalmente eu começo esses textos com dois temas na cabeça, que costumam ser alguma coisa de base, como um livro que eu li ou um filme que eu vi, e alguma ideia que eu tento transmitir por debaixo dos panos enquanto vou falando da obra em questão. Dessa vez eu confesso que não sei onde quero chegar falando de uma experiência esquisita num evento que me chateou. Outro dia a minha amiga Natália, que eu conheci em um curso de escrita, postou no velho Instagram um vídeo do Bartolomeu Campos de Queirós falando sobre, entre outras coisas, a beleza:
“A beleza é tudo aquilo que você não dá conta de ver sozinho. Quando você encontra uma coisa muito bonita, você fala assim: ‘Fulano devia ver isso’, aí você vê.”
Isso aí já justifica qualquer rede social de fotos e vídeos que exista, e acho que, modestamente, também é isso que eu tento fazer quando te mando um e-mail contando sobre alguma coisa que eu vi ou sobre o que um sentimento me fez pensar. Eu nunca li nenhum livro do Bartolomeu e com três minutos de prosa ele me faz querer ver só lados bons em qualquer coisa que tenha a ver com as fotografias, com os jovens e com a literatura. Assiste aí se quiser me ajudar a ver.
Você traduziu um sentimento que eu nunca tive, pois não frequentei esses eventos todos. Mas foi bem o que eu imaginava haha