Epa! Que negócio é esse de Sinto um Pouco?
Lembra que no ano passado eu falei que tava difícil dar conta de escrever um texto razoável toda semana para te mandar por aqui? Pois então, essa foi a solução que eu encontrei. Agora você vai receber uma edição normal do Sinto Muito a cada duas semanas, intercaladas com este novo formato, em que comento alguma coisa rapidinho.
Como não dá para fugir do assunto de processos em uma primeira edição como essa, achei justo comentar sobre uma obra bem autorreferente, escute e veja aí o Jack White:
Não é preciso conhecer muito desse compositor para sacar que ele costuma cismar com as suas ideias. O cara ficou famoso mundialmente numa banda que era só guitarra e bateria e sempre se vestia de vermelho. Em 2005, trouxe a noiva para o Brasil e se casou em uma canoa, no encontro das águas do Rio Negro com o Solimões (na ocasião, aproveitou para fazer um show histórico com os White Stripes no Teatro Amazonas). Tem ainda outras bandas com conceitos bem fechados e na carreira solo tudo tem que ser azul, como os blues que são sua fonte primária de inspiração.
Over and Over and Over é uma canção lançada no terceiro disco solo de White, Boarding House Reach (2018), mas já existia bem antes. Em uma entrevista para a Rolling Stone, o cantor diz que essa música era a sua “baleia branca”, expressão que se usa em inglês fazendo referência à obsessão do Capitão Ahab em Moby Dick.
“Eu a persegui por muito tempo até que, de repente, funcionou”
E o que eu acho mais legal é que a música trata justamente disso, desde a frase melódica em loop e o arranjo que a espreme ao limite de variações possíveis, até o clipe surrealista que também explora a repetição e combinações de elementos recorrentes. Passando, é claro, pela letra:
“Sonhador como Sísifo
Minha fíbula e meu fêmur
carregam o peso do mundo (De novo e de novo)Penso, logo morro
Minha ansiedade e eu
rolando morro abaixo (De novo e de novo)”
Jack compara o mito de Sísifo com a sua labuta, a guitarra tocada eternamente feito um castigo dos deuses. Mais adiante, ele não reclama:
“Sou punido por uma paixão
Você que perguntou
Estou faminto pelo serviço”
Porque ele é um obcecado, podem mandar tocar pra sempre que ele quer é mais. Como num trocadilho que ele mesmo usa nessa letra, rolar a pedra é rock’n’roll.
Então, me conta se tem algo que você faria para sempre e o que você achou desse modelo de e-mail mais apressado.
Semana que vem sentiremos muito de novo.