Já faz um pouco mais de um ano que escrevo por aqui e durante esse tempo procurei sempre ir buscando qual seria a melhor forma de organizar as ideias e apresentar minhas impressões. Se alguém pegar aleatoriamente três ou quatro edições deste Sinto Muito, provavelmente encontrará textos com estruturas distintas, abordagens variadas e - sinto muito - altos e baixos de qualidade de escrita. Mesmo assim, ao menos duas coisas são constantes desde o começo: A primeira é que tento sempre ilustrar quem é responsável pelas obras que comento por aqui, sem pretensão de impor como regra a associação entre artista e obra (deus me livre entrar nessa discussão) mas com intenção de dar uma cara e trazer a produção artística um pouco mais para perto do cotidiano. A segunda é que sempre me surpreendo quando alguém me conta que lê o que escrevo aqui, que gosta, que reserva um tempo para ver o e-mail com calma, etc. Não é falsa modéstia, eu também consigo gostar da maioria dos meus textos, mas acho mesmo inusitado, não dou isso de barato.
Imagine então qual não foi minha surpresa quando meu amigo Aikau, sobre quem falamos no Sinto Muito #38, me informou que resolveu usar uma frase minha como epígrafe de sua nova HQ, Dente-de-Leão, a ser lançada na Feira Butantã Gibicon, no próximo fim de semana. Emocionante ver meu nome ali depois de uma frase entre aspas, num espaço tão nobre de uma publicação de alguém que eu sou fã. Até mais emocionante do que me ver como creditado como autor.
Pois é, porque eu não escrevo só aqui nessa newsletter. Outro dia uns amigos me cobraram sobre isso, que eu não conto para as pessoas quando publico alguma coisa, então agora vou me ocupar um pouco com isso. A primeira vez que um texto meu integrou um livro foi em Desnamorados, uma concepção coletiva sobre o amor, lançada pela Editora Empíreo no mesozoico ano de 2014, sob coordenação de Anna Haddad, Filipe Larêdo e uiu cavalheiro. É um projeto lindíssimo que eu tenho orgulho de integrar, tanto pelo livro como um todo quanto pela minha contribuição especificamente, um continho de uma página chamado “Simbiogênese”. Já em 2016 tive a oportunidade de fazer um curso de formação de escritores no Sesc Belenzinho, que após um ano de aulas, conversas e algumas cervejas nos bares da zona leste, rendeu um livro em dois volumes homônimo ao curso, Eu, Escritor, editado lindamente pela Editora Quelônio. Neste eu participo com um conto chamado “Homem-sofá”, que acabou me inspirando, entre outras coisas, a encomendar uma pintura que tenho na parede de casa e a fazer uma tatuagem que carrego na nuca.
No subsequente 2017, fui parar numa coletânea de poesia chamada Além da Terra, Além do Céu, da Editora Chiado. Este é o único projeto que me envolvi que não gosto de resultado, por uma série de razões que não cabe detalhar aqui. Meu poema que está lá eu ainda gosto, se chama “Entre”. Para encerrar as coletâneas, em 2019 estive em Crônicas do Ensino Básico, uma seleção feita a partir de texto da revista homônima, editada pelo meu irmão Renato Pugliese (sem nepotismo) em anos anteriores. O livro saiu pela Moura SA e meu texto é um misto de crônica e conto chamado “Acerto de contas”, que fala um pouco sobre coisas que a gente vive na escola e ficam mal resolvidas na nossa cabeça pro resto da vida.
Além desses lançamentos coletivos, tenho duas publicações experimentais individuais independentes. 366 Microcontos, livro que lancei em 2017 e contém, adivinhe, 366 microcontos, dispostos em forma de jornal para ressaltar a intenção de que seja lido um pouquinho por dia. Uma grande alegria que este me deu foi a de vê-lo sendo usado em sala de aula, por professores que viram uma boa forma de engajar os alunos com literatura em seus textos super curtos e formato não tradicional. Já Anagramas em Paz, de 2021, é fruto de uma brincadeira que eu fazia nos stories do instagram, pedindo para as pessoas votarem em enquetes onde disputavam duas palavras formadas pelas mesmas letras, como Galeria e Alegria, por exemplo, adaptando isso para um formato mais poético. Os dois foram publicados pela Factível, que é o nome de editora do meu MEI na Câmara Brasileira do Livro. Como este eu fiz inteiro sozinho - escrevi, diagramei, imprimi, dobrei, cortei, carimbei, costurei, colei, etc. - a tiragem foi limitadíssima e está virtualmente esgotado. Quem tem, tem.
Depois de tudo isso aí, comecei 2020 bem animado com a notícia de que tinha sido selecionado para participar do Clipe - Curso Livre de Preparação de Escritores - na Casa das Rosas. Tivemos duas ou três aulas na Casa e depois tivemos que ficar cada um na própria casa mesmo, por conta da pandemia do coronavírus. Seguimos com o curso em videochamada até dezembro e mantivemos contato ao longo do ano seguinte, matutando a ideia de criar algo mais. Conto tanto do passado para chegar enfim ao presente: Fizemos um livro chamado Casa Palavra, que será lançado no dia 3 de dezembro na própria Casa das Rosas, das 14h às 17h. Para este eu fiz o conto “Quem viu, viu também”, que tem algumas investigações formais importantes para mim. A Editora Penalux fez um trabalho super bonito com o material e estamos todos ansiosos para espalhar nossas palavras para outras casas.
Conforme a gente se encaminha para a edição #50 (quem sabe ainda no limite desse ano) eu me recordo do curso da Aline Valek que me motivou a começar este espaço de reflexão compartilhada. Além de tratar da concepção de uma newsletter e de como desbloquear nossa cabeça para escrever com alguma regularidade, ela sugere que, após acumular algum volume de conteúdo, se pense na possibilidade de organizar um compilado em forma de ebook, zine ou algo do tipo. Tenho nutrido cada vez mais simpatia por essa ideia, por isso queria te pedir uma ajuda: Você lembra de algum texto em especial do Sinto Muito que tenha gostado? Alguma sugestão do que podemos fazer a partir desse tanto de ladainha que fico te mandando toda semana? Vamos trocar uma ideia, responde esse e-mail ou deixa um comentário na postagem. Vamos sentir juntos.
Que caminhada linda, Rafa!