Por levantar bandeiras - Sinto um Pouco #2
Uma vez me fizeram jurar que eu daria a vida por uma coisa.
Semana passada falamos sobre os futuros e presentes possíveis para o Brasil, lembra? Para que exista essa ideia de nação, é preciso que alguns símbolos a representem. 2022 é ano de copa e ano de eleições, então vamos ver nossa bandeira tremulando por aí o tempo todo e por conta disso discutir ainda mais a identidade nacional. Eu falei “Nossa bandeira”?
No episódio 3 da terceira temporada de Explicando, o assunto tratado são as bandeiras e como elas mexem com nossos sentimentos. É bem interessante, você pode ver aqui na Netflix.
Se você preferir uma abordagem mais bem humorada e ao mesmo tempo mais técnica, a palestra de Roman Mars no TED é uma boa pedida. Ele fala sobre vexilologia, que é o estudo das bandeiras e suas convenções, e como as boas práticas do design se aplicam às bandeiras, ilustrando com exemplos bons e ruins de cidades e países. É falado em inglês mas tem boas legendas em português que você pode ativar pelo tocador do YouTube.
Para mim é impossível ver esse tipo de informação e não conferir se os estandartes da minha cidade, estado e país seriam motivo de orgulho ou vergonha para os vexilólogos. Infelizmente nenhuma delas passaria no teste. Seja pelo uso de cores demais, por ter formas muito difíceis de desenhar (a bandeira de SP tem um mapa do Brasil) ou por incluir texto e brasões, as recomendações para boas bandeiras estão desrespeitadas. A bandeira da cidade de São Paulo tem até outra bandeira desenhada dentro dela.
Além dessas questões de design, a bandeira do Brasil tem outros problemas. Cores herdadas da bandeira imperial portuguesa; dizeres positivistas que na prática não nos dizem nada; já ter sido associada com a ditadura militar e agora com a volta da extrema direita. Há quem defenda que a gente deva se reapropriar desse símbolo nacional, outros propõem mudanças para que faça mais sentido.
Uma variação discreta é o que defende o Movimento Amor na Bandeira, que quer apenas incluir no nosso lema o primeiro elemento da fórmula positivista de Augusto Comte:
"O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim"
A Mangueira deu um passo além no seu desfile do carnaval de 2019, trocando as cores das caras imperiais de Bragança e Habsburgo por seu imbatível Verde & Rosa, e trocando as palavras abstratas do lema por algo muito mais concreto: Índios, negros e pobres. Saiu campeã.
Já o artista Fred Costa, em sua obra Bandeyra, busca representar “uma nação dentro de um país”. As cores das formas geométricas são substituídas pelas do orgulho trans, e no meio do céu, em vez de um texto, se vê um arco-íris. Dos exemplos aqui listados, acho que esse é o mais difundido, que a gente vê por aí com alguma frequência.
Enquanto o Don L, também citado aqui na última edição do Sinto Muito, apresenta sua proposta no vídeo da música Favela Venceu.
E a sua bandeira, qual é?
Até semana que vem,