5 Comentários

Rafael, seu texto me atravessou de tantas e tantas formas... te encontrei por acaso e fui completamente tomada por este texto. Também perdi o meu pai, e primeiro texto que resolvi publicar por aqui também é em referência a ele.

Escrever parece, de algum modo, nos sustentar diante da perda. Ainda que não sem alguma angústia. Você citou a música do Edgar Scandurra, que eu conhecia pela banda Ira!, meu pai era muito fã. Sempre que tocava essa música, ele aumentava o volume. Quando ele estava na UTI, coloquei a música para ele ouvir, e assim ele se foi.

Relembro agora os livros que li após a morte do meu pai, um deles é "Morreste-me" de José Luiz Peixoto. Deixo um verso para você:

"Descansa, pai, dorme pequenino, que levo o teu nome e as tuas certezas e os teus sonhos no espaço dos meus. Descansa, não vou deixar que te aconteça mal. Não se aflija, pai. Sou forte nesta terra nos meus pés. Sou capaz e vou trabalhar e vou trazer de novo aqui o mundo que foi nosso. Vou mesmo, pai. O mundo solar. Reconhecê-lo-ei, porque não o esqueci. E também o tempo será de novo, e também a vida. Sem ti e sempre contigo. A tua voz a dizer orienta-te, rapaz. Não se apoquente, pai. Eu oriento-me. Eu vou. Anoitece a estrada no que sobra da manhã. Chove sol luz onde está o que os meus olhos vêem. A carrinha grande que prometeste, que planeaste para nós, que ganhaste a trabalhar meses, leva-me. Onde estás? Na angústia, preciso de te ouvir, preciso que me estendas a mão. E nunca mais nunca mais. Pai. Dorme, pequenino, que foste tanto. E espeta-se-me no peito nunca mais te poder ouvir ver tocar. Pai, onde estiveres, dorme agora. Menino. Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei."

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Jan 26Gostado por Rafael Marcon

Temos que prosseguir Filho. Cada dia que passar vai nos mostrar como.

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Jan 25Gostado por Rafael Marcon

Que carta bonita. Sinta-se abraçado.

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